Busca por qualidade também está entre os principais temas pesquisados
A necessidade de diversificar as variedades de café sempre foi uma realidade no Brasil. Sendo um país de clima tropical e com áreas produtivas tão diversas, estudos e pesquisas têm sido continuamente dedicados à busca de novas cultivares.
Por que buscar novas variedades?
Cada região produtora possui características específicas, o que exige atenção redobrada nos manejos diários, com frequência adaptados às condições locais.
Recentemente, na região das Matas de Minas, em Minas Gerais, e no Espírito Santo, regiões montanhosas associadas à cultivar Catuaí, têm feito novas apostas com base em pesquisas da Fundação Procafé.
Embora o Catuaí tenha tido alta produtividade ao longo dos anos, ele também se apresentou altamente suscetível à ferrugem. Variedades como Catucaí, Arara e Acauã, testadas nessas regiões, apresentaram produtividade superior, maior resistência à ferrugem e tolerância a algumas pragas.

Um estudo conduzido pela Fundação Procafé em 2024 reafirmou que as regiões montanhosas, além de obterem bons resultados com essas variedades, também produzem cafés de alta qualidade.
Fundação Procafé já registrou mais de 40 novas cultivares
Lucas Bartelega, pesquisador da Fundação Procafé, explica que o banco ativo de germoplasma da instituição possui mais de dois mil materiais.
“Com cerca de 200 experimentos instalados em diversas regiões, trabalhamos no melhoramento genético do cafeeiro. Por meio desses estudos, já desenvolvemos 45 novas cultivares de café, registradas no Ministério da Agricultura”, ressalta.
A lista das cultivares mais implantadas nos últimos dez anos inclui: Arara, Asabranca, Catuaí Amarelo e Vermelho, Catucaí 785-15, Catucaí 24-137, Catucaí Amarelo 2SL, Graúna, Guará, IAC Catuaí SH3, Mundo Novo, Obatã Amarelo, IPR 100, MGS Paraíso 2 e Topázio MG 1190.
Segundo Bartelega, o foco principal da Fundação é desenvolver variedades mais resistentes a pragas e doenças, com maior potencial produtivo.
“Todo esse trabalho é realizado com experimentos de campo, avaliando vigor, produtividade, resistência a pragas e doenças, além da adaptabilidade em diferentes regiões. É um processo minucioso que pode levar mais de 30 anos para o desenvolvimento de uma cultivar”, destaca.
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A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) também desempenha um papel importante na renovação das variedades de café no país.
Nos últimos dez anos, a instituição trabalhou em um programa de melhoramento genético que resultou em cultivares como a MGS Paraíso 2, amplamente reconhecida por sua alta produtividade e aptidão para cafés especiais.

Dênis Nadaletti, doutor em Fitotecnia, engenheiro agrônomo e pesquisador da Epamig, destaca que a MGS Paraíso 2 foi recomendada tanto para o Sul de Minas quanto para o Cerrado Mineiro.
“Outro destaque foi a cultivar MGS Ametista, indicada para ambas as regiões, por ser altamente produtiva e eficiente em sistemas de cultivo sequeiro e irrigado. Além disso, apresenta bom desempenho em altitudes abaixo de mil metros, graças à sua maturação tardia”, explica.
Essas variedades também chamaram atenção por sua tolerância ao déficit hídrico, uma realidade enfrentada pelas áreas cafeeiras brasileiras nos últimos anos.
Ciência e pesquisa na busca por mais eficiência
Como principal produtor de café do país, Minas Gerais investiu, ao longo da última década, em pesquisas e no desenvolvimento de diversas cultivares.
De acordo com a Epamig, o processo de desenvolvimento de uma variedade pode levar mais de 20 anos, englobando seleção, cruzamento e registro.

“Primeiro, trabalhamos projetos de unidades demonstrativas de forma estratégica, em seguida, levamos essas variedades para campos experimentais em propriedades, onde recebem todos os tratos culturais. Além disso, as plantas são comparadas com cultivares tradicionais para obtermos análises efetivas”, explica Dênis.
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Além de alta produtividade, os programas de melhoramento genético no Brasil focam em resistência à ferrugem, principal doença da cultura, bem como, alto vigor vegetativo e potencial para cafés especiais, característica valorizada nos últimos anos.
Na região de Rondônia, o trabalho com café robusta segue a mesma linha. A Embrapa tem investido em novas variedades, priorizando a qualidade.
“Estamos revisitando a coleção original de robustas da Embrapa para testar sua qualidade. Antes, procurávamos questões agronômicas e só então analisávamos a bebida. Hoje, invertemos o processo: começamos pela qualidade da bebida e, posteriormente, analisamos os aspectos agronômicos”, comenta Enrique Alves, pesquisador do setor.
Além disso, a Embrapa desenvolve um modelo de “melhoramento participativo”, que inclui análises agronômicas, químicas, físicas e genéticas dos clones selecionados de forma empírica pelos produtores de Rondônia e da Amazônia.

“São clones com grande potencial agronômico, já amplamente cultivados, mas ainda pouco estudados cientificamente”, destaca Enrique.
Embora minucioso, esse trabalho abrange estudos sobre a compatibilidade de fecundação das flores, resistência das plantas e perfil químico. Atualmente, mais de 50 clones estão sendo analisados, com previsão de lançamento de novos materiais híbridos nos próximos quatro anos.
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